O Código de Hammurabi tem algumas sentenças que ficaram conhecidas ao longo da história: “Se um awilum (pessoa livre) destruiu o olho de um awilum, destruirão seu olho” e “Se um awilum quebrou o dente de um outro awilum, destruirão seu dente”. A famosa lei do talião: “Olho por olho, dente por dente” pode ser considerada um ato de barbárie, mas se justificava devido à época em que era aplicada, isso foi há uns 4.000 anos, na antiga Babilônia.
Que código moral é esse que ensina a vingança em vez da justiça? Segundo a visão dos babilônios, justiça era feita quando o transgressor era punido de forma igual ao dano que havia causado na vítima.
Hoje o “toma lá, dá cá“, para nós, pessoas modernas e cultas, é algo impensável. Mas foi justamente a lógica do “Olho por olho, dente por dente” que está por trás de uma das melhores teorias sobre a Colaboração. Parece contraditório, não?
Do mesmo modo que existem as leis e sentenças, que analisam o comportamento humano de forma padrão, ou seja, para tal crime, tal penalidade, os psicólogos, matemáticos, economistas, por exemplo, estudam padrões no comportamento humano para gerarem suas teorias. Por exemplo, a teoria dos jogos é um ramo da matemática que estuda os processos de tomada de decisão na presença de diversos parceiros. Assim, foi feito um estudo para saber como as pessoas enfrentariam o dilema entre colaborar ou trair, uns com os outros.
A regra é a seguinte: duas pessoas são entrevistadas, em salas separadas, e elas ficam sabendo que há três possibilidades:
- Se os participantes A e B cooperarem, ambos ganham três pontos.
- Se os dois traírem, os dois ganham um ponto.
- Se apenas um dos dois trair, o traidor ganha cinco pontos, quem cooperou, nada.
Como a pessoa não sabe o que o outro escolheu, deve-se imaginar que trair seja a melhor opção, pois ela tem chance de ganhar cinco pontos ou um, contra colaborar com a chance de ganhar três pontos ou nada.
Como você vê, nesse jogo, os participantes são induzidos a trair mais do que cooperar (o que acontece. em geral, em ambientes sociais ou de trabalho muito competitivos).
Mas o que isso tem a ver com colaboração, se o incentivo maior é por trair?
Pensando nisso, o estudioso Robert Axelrod (autor do livro a Evolução da Cooperação) propôs um jogo em que vários participantes poderiam propor suas estratégias para o dilema “trair ou cooperar”. As estratégias variavam desde as mais simples até as complexas. Vejamos algumas estratégias:
- Gente Boa: sempre cooperar. Estratégia ingênua, pois o outro participante, a cada vez que traísse, levaria a melhor, o que é injusto.
- Vingativa: cooperar no início e na primeira traição do outro seguir traindo até o fim dos tempos. Estratégia rancorosa que muitos de nós usamos no dia a dia.
- Alternada: uma vez trair, outra vez cooperar. Gera uma interação inconsistente na relação.
- Olho por olho, dente por dente: começa cooperando, a partir do segundo lance repete o que o outro fez na jogada anterior. Típica relação de ação e reação.
Além dessas, foram várias estratégias apresentadas e testadas 100 vezes (para medir o comportamento em longo prazo). E a vencedora foi… Consegue imaginar?
Pois é, a estratégia “Olho por olho, dente por dente” teve o melhor desempenho.
Por quê?
A estratégia tem as seguintes características: começa cooperando num ato de boa fé. É direta e de memória curta, pois reage logo conforme a ação do parceiro. Cooperou, recebe cooperação. Traiu é punido com traição. E se o parceiro volta a cooperar? Sem problemas, recebe cooperação em troca. Essa estratégia pode ser resumida como: “punição imediata, mas de perdão incondicional” – como bem observou David Louapre.
Analisando a pontuação, trair pode ser tentador por permitir que se ganhe cinco pontos, isso se o outro não trair. Mas se o outro também trair, só se ganha um ponto. Fazendo as contas é mais negócio os parceiros cooperarem, pois asseguram sempre três pontos para cada um. O que possibilita a cooperação contínua.
E como dizia o nosso profeta Gentileza, que pregava palavras de amor e respeito ao próximo: “Gentileza gera gentileza“.
Por: Martha Sutter